Os Liberais na
Inconfidência Mineira e na Conjuração Baiana
Durante o século XVIII, quando a
atividade econômica do Brasil colônia atingia seus níveis mais altos, a região
das minas fervilhava de idéias de libertação, especialmente em Vila Rica (atual
Ouro Preto) capital da Província das Minas Gerais. Os filhos das famílias
mineiras mais prósperas podiam estudar na Europa, e, lá entravam em contato com
as idéias liberal-burguesas do Iluminismo. a mocidade brasileira se não
contentava com a instrução que lhe oferecia a mãe-pátria na sua única
universidade. Tinha Coimbra perdida para ela esse pomposo nome de nova Atenas,
apesar da reforma por que passara e dos abalizados mestres que lhe deram.
Portugal não resumia mais em si ou em suas produções o universo. Após ele se
haviam levantado nobre e valentemente as nações da Europa a lhe tomar a
vanguarda na senda da civilização, e assim atraíam as nossas vistas. A
Inglaterra e a França, com instituições livres e populares, conquistavam as
simpatias de nossos jovens e os corações batiam de entusiasmo ao respirar os
ares dessas nações tão populosas, tão vastas, tão industriais. Distinguia-se na
mocidade uma inquietação surda, uma tendência para nova vida, uma ambição para
existência mais ativa. Ela via com dor o retardamento do progresso da pátria e,
ao voltar para a colônia que lhe dera o berço, suspirava pela liberdade que
gozara, pelas delícias da civilização que fruíra nos países europeus. Um jovem
inconfidente de destaque foi Cláudio Manuel da Costa, que ao voltar da Europa
se deixara dominar pelos desejos de democracia e liberdade, expressadas nas
suas poesias: "Não são estas, dizia ele, as venturosas praias da Arcádia,
onde o som das ondas aspirava a harmonia dos versos. Turva e feia a corrente
destes ribeiros, primeiro que arrebate as idéias de um poeta deixa ponderar a
ambiciosa fadiga de minerar a terra, que lhe tem pervertido as cores. A
desconsolação de não poder subestabelecer aqui as delícias do Tejo, do Lima e
do Mondego, me fez entorpecer o engenho dentro do meu berço". Outro jovem
vindo da Inglaterra, o dr. José Álvares Maciel. Conhecia-o da sua capitania e
além disso era cunhado do tenente-coronel do seu regimento Francisco de Paula
Freire de Andrade. Vinha o jovem Maciel de países livres, onde adquirira rara
instrução e onde fora iniciado nos mistérios da maçonaria. Trazia a cabeça
cheia de idéias democráticas, que lhe inspiraram os admiráveis progressos da
nova república de Washington, Franklin e Jefferson, e a prática política e
ideológica lá praticada. Era o dr. José Álvares Maciel um jovem de vinte e sete
anos de idade; tinha nascido em Vila Rica, donde seu pai era capitão-mor; e
educara-se na Europa. Depois de se ter formado em ciências naturais na
universidade de Coimbra, visitou a Inglaterra onde se demorou um ano e meio
completando a sua instrução, visto que seu pai o auxiliava com alguma quantia
para a sua assistência; todavia parece que as idéias da emancipação política da
sua pátria o moveram mais do que os seus estudos a essas viagens, e que era ele
um dos dois emissários mandados à Europa para esse fim, e que enquanto José
Joaquim da Maia conferenciava com Tomás Jefferson ele sondava a disposição dos
ingleses a nosso respeito. Presume-se até que comunicara essas idéias aos
estudantes seus compatriotas da universidade de Coimbra por intermédio do seu
amigo o dr. José de Sá e Bitencourt, que encontrou em Lisboa, de volta de sua
viagem à Inglaterra. Falando o jovem Maciel de seus estudos ao Alferes Joaquim
José da Silva Xavier, conhecido como "Tiradentes", tratou dos
conhecimentos que havia adquirido à respeito da indústria manufatureira e
sobretudo acerca da mineração. Patenteando o progresso dos povos livres nos
diversos ramos da indústria, do comércio e das artes liberais, acabou por
lastimar que seus compatriotas jazessem nas sombras da ignorância e ainda em
mal, não soubessem se aproveitar dos recursos que lhe oferecia o país muito
mais favorecido pela natureza do que a Europa, e que com algum trabalho podia
ter tudo quanto tinha o velho continente. Falava o jovem doutor a um homem
apaixonado, descontente, doído com suas preterições, e o alferes Joaquim José
sentiu que lhe tocavam nas chagas abertas que influenciados pelas ideais da revolução
inglesa e especialmente da revolução francesa, criou em Minas um
clima geral de revolta. .
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